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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 9 (I), Trilha 2): Tecnocracia e Democracia. História do Joaquim.

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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 9 (I), Trilha 2): Tecnocracia e Democracia. História do Joaquim.

Detalhes do registo

Nível de descrição

Documento simples   Documento simples

Código de referência

PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/028

Título

Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 9 (I), Trilha 2): Tecnocracia e Democracia. História do Joaquim.

Datas de produção

1976  a  1976 

Dimensão e suporte

1 ficheiro áudio MP4, 29m52

Registo audiovisual

https://vimeo.com/1085448373

Âmbito e conteúdo

Programa emitido pela Emissora Nacional e produzido pelo Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), onde são abordados os temas: Tecnocrata, Tecnocracia, Instituições Democratas, Democracia Representativa, Capitalismo Liberal. História do Joaquim, operário numa fábrica, e da sua família, das más condições em que vivem e da exploração a que estão sujeitos pela entidade patronal. A história desta família representa a realidade de grande parte das famílias portuguesas. As várias temáticas são intercaladas com música.

Cota antiga

P9P1

Idioma e escrita

Português

Existência e localização de originais

Áudio analógico (em fita de arrasto).

Existência e localização de cópias

Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).

Transcrição

O tecnocrata acredita que o governo das pessoas, a nível político, deve subordinar-se ao governo da técnica. Para o tecnocrata o único governo eficaz é aquele que se impõe em termos de economia planificada. Nos países do Oeste, como nos países de Leste, é aliás o que acontece, o que dá razão aos tecnocratas quanto ao ponto de vista da gestão planificada da economia.Claro que, aos tecnocratas, se opõe duas forças, por um lado, os antigos proprietários das fábricas, bancos e empresas que consideram os tecnocratas como funcionários irresponsáveis, discutindo problemas abstratos, fora da realidade, por outro lado, a conceção marxista, reduzindo os tecnocratas à simples função de gestores e, portanto, servidores do grande capital monopolista. Mantendo-se as classes exploradas a viverem na mesma, de um salário, mas agora melhor governadas por via da planificação que permite uma melhor distribuição dos rendimentos e do trabalho.03m10: Há ainda a considerar que a tecnocracia põe em questão alguns princípios fundamentais da, já hoje, tão debilitada democracia representativa.04m14: A complexidade das sociedades industriais avançadas não permite a lentidão dizem da democracia representativa e parlamentar. De facto, a planificação da economia obriga à intervenção do estado a quase todos os níveis da vida, por isso, o governo é obrigado a rodear-se de equipas cada vez maiores de especialistas, melhor dizendo, de tecnocratas, a fim de promover e coordenar as atividades dos diversos setores de produção, agricultura, indústria, serviços, importação, exportação, cultura, etc., etc.(Brasileiro) “A cultura, a civilização, só me interessam enquanto sirvam de alimento, enquanto sarro, prato suculento, dica, power, informação." 05m19: O problema quanto à democracia representativa é saber como será possível conciliar o domínio tecnocrático crescente no aparelho de estado com as instituições liberais que dizem respeito ao pré-capitalismo e à fase do capitalismo liberal.Muitos veem nesta dificuldade de conciliação a vitória da tecnocracia e a morte das instituições democráticas e representativas. Por enquanto, e dentro do sistema capitalista esta polémica ainda não está inteiramente esclarecida, apesar de tudo indicar posições mais solidas do lado dos tecnocratas, já que a história não tem por costume voltar atrás. 08m53: Estado Maior General das Forças ArmadasDentro de meio minuto daremos lugar ao boletim de notícias que a redação da rádio difusão portuguesa preparou para as dez horas. Voltamos logo a seguir.09m44: (História do Joaquim)(Mulher) 'Jaquim', ó 'Jaquim'.Olha que eu não sei onde é que isto vai parar, a vida está cada vez pior, tudo custa um dinheirão e nós temos que arranjar mais dinheiro cá para a casa. Já vistes os nossos filhos, como andam desmazelados e magrinhos.(Joaquim) Pois é mulher, eu bem sei, ou pensas que ando de olhos fechados? E os olhos abertos durante as noites que não durmo a pensar nisso, não sabes? Não te dás conta?(Mulher) Eu sei 'Jaquim', eu sei, mas já por mor de se isto muda 'home', eu digo-te porque ando mesmo arrelampada de todo.(Joaquim) Na fábrica continuam-me a pagar uma miséria, exploram-me, e vai-se a ver o salário é o que se sabe, lá tenho eu que voltar aos caixotes e às embalagens de madeira. Vamos a ver se arranjo comprador e assim que arranjar, olha, começa outra vez com os biscates dos caixotes aqui em casa.12m14: Uma pessoa, uma sociedade, um povo que vive na dependência dos outros, não é independente. Ora, não ser independente quer precisamente dizer que esse mesmo povo não é livre ou então que é muito pouco livre.13m50: Todos sabemos que há pessoas, famílias, sociedades, povos que não são livres. Escolhemos para hoje a história de uma das pessoas deste nosso país que não é livre.14m34: O Joaquim não é livre e não é caso único. Em vez da história do Joaquim, que vamos contar, deste ser individual, poderíamos muito bem associar a ela, as vidas da quase totalidade dos 'Joaquins' do nosso país e certamente não erraríamos se o fizéssemos.15m23: O nosso Joaquim é operário numa fábrica do Norte, mas como ganha pouco e a vida está cara trabalha de carpinteiro nas horas vagas, faz caixotes. Caixotes que vende ao Senhor Alfredo.16m06: (Joaquim) Bom dia Senhor Alfredo!(Alfredo) Olhe lá ó Joaquim, os dois caixotes que lhe encomendei na quarta-feira já lá deviam estar no armazém.(Joaquim) Ó Senhor Alfredo, mas então não vê que só trabalho para si ao domingo e para mais com este sol bonito, bem, mas estão quase prontos.(Alfredo) Já deviam estar, já deviam estar Joaquim. Logo à tarde volto a passar por aqui e trago a carrinha.(Joaquim) Bom dia Senhor Alfredo, passe vossemecê um bom domingo.18m35: Com o dinheiro dos caixotes, o Joaquim consegue manter a sua casita e alimentar a mulher, a sogra e mais quatro filhos ainda novinhos. O mais velho, o João, tem apenas dez anos, anda na quarta classe e já ajuda o pai no ofício de carpinteiro.20m10: (Joaquim) Ó João! João!(João) O que é pai?(Joaquim) Chega-me aí essa garlopa e arruma-me esses sarrafos que andam para aí a monte.(João) Já vou pai estava a tirar o Nandinho do pote.20m35: Há já alguns anos que o Joaquim faz caixotes nas horas vagas e é operário nas outras. Há já vários anos, que o Joaquim vende sempre os caixotes ao Senhor Alfredo.21m29: Uma vez, era domingo de manhã, estava o Joaquim e o seu filho João a trabalhar nos caixotes como de costume e a mulher e a sogra a tratar da casa e dos animais, ouviu-se uma voz por entre os barulhos habituais, ou seja, do automóvel e das marteladas nos caixotes.22m18: (Alfredo) Ó Joaquim, olhe que vossemecê sempre me saiu um homem com sorte.(Joaquim) Bom dia Senhor Alfredo!(Alfredo) Estive a pensar e cheguei à conclusão que podia ajudá-lo com um negócio importante, seguro e por muito tempo. Cá esta cabeça, hã Joaquim, fez-se é para pensar, não é verdade.(Joaquim) Mas, Senhor Alfredo, assim uma coisa tão boa? Então, diga lá.(Alfredo) Homem, formidável. Trata-se do seguinte, vossemecê vai passar a fazer para mim embalagens de madeira. Uns caixotes especiais, trago aqui as medidas que lá o meu técnico esteve a desenhar. Mas, olhe que não é nada de complicado, está a ver, olhe aqui.(Joaquim) São um bocadinho diferentes, Senhor Alfredo. Mas não me parece difícil.(Alfredo) Pois não é, não senhor, acertou. O que é preciso Joaquim, e isto é mesmo a sério, é que vossemecê faça uma média de cinco caixotes por mês, para começar, hum, que tal ó Joaquim?(Joaquim) Isso dá vinte e cinco caixotes por domingo.(Alfredo) Homem, o que é isso para si? Mais a mais o 'Joanico' já ajuda. Não ajudas meu rapaz?(João) Hã, vou fazendo alguma coisa Senhor Alfredo.(Alfredo) Anda lá, anda, que vais por bom caminho. (Tosse) Toma lá um chocolate, que trazia para ti e para os teus irmãos. E nós Joaquim?(Joaquim) Francamente Senhor Alfredo, eu não sei se aguento. Verdade, nós precisamos de ganhar mais uma coroas. Os ganapos estão a crescer e depois a minha sogra, como sabe, é uma carga de trabalhos, com as doenças. Mas eu não sei.(Alfredo) Ora agora não sabe ó Joaquim, isso nem parece seu, um homem cheio de coragem, cheio de força. Olhe que muito desempregado, que por aí anda, do seu ofício, sim do seu ofício, dava tudo e mais alguma coisa e depois já viu que eu ando sempre a dizer aos meus clientes que os caixotes do Joaquim são os mais bem feitos de toda a região, já viu isto Joaquim?25m08: Depois de algumas horas de conversa, onde o Senhor Alfredo tudo explicava, quando surgiam dúvidas no espírito do Joaquim, conseguiu o Senhor Alfredo ganhar definitivamente a batalha, jogando o último trunfo e também o mais importante.25m37: (Alfredo) Ó Joaquim, vamos lá a ver, faço-lhe um contrato por três anos, hein, por três anos e pago-lhe cada caixote por mais três mil e setecentos, que diabo quer mais Joaquim? Diga-me lá? Diga-me lá? Pensando bem, Joaquim, pensando bem, até vossemecê podia dedicar-se a isto homem e ver-se livre da porcaria da fábrica, não era? Diga lá? E?(Joaquim) Não sei Senhor Alfredo, não sei.(Alfredo) E eu a dizer que se tudo correr bem até vossemecê pode alargar a sua oficinazinha.(Joaquim) Não sei, foi tudo tão de repente, acho que vou pensar Senhor Alfredo, vou pensar.(Alfredo) Está pensado homem, está pensado, vossemecê não pensa nos filhos? Ó João, vai até lá dentro (tosse) ó Joaquim, vossemecê tem quatro filhos para criar, o seu João já vai percebendo alguma coisa, vossemecê não quer que ele fique com o gosto da miséria disfarçada no céu da boca, para sempre, ora não? E depois não é só o João, daqui a nada, enquanto o diabo esfrega um olho, pumba, já os outros estão granditos para o ajudar aqui e se vossemecê lhes poder dar um futuro melhor, estudos e livros, ou quer que eles fiquem para aqui carpinteiros ou trolhas? Sempre seria uma melhor vida do que aquela que vossemecê tem levado, não?(Joaquim) Vou pensar Senhor Alfredo. Estou quase convencido, mas vou pensar.