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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 8 (II), Trilha 2): Campo versus Cidade.

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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 8 (II), Trilha 2): Campo versus Cidade.

Detalhes do registo

Nível de descrição

Documento simples   Documento simples

Código de referência

PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/026

Título

Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 8 (II), Trilha 2): Campo versus Cidade.

Datas de produção

1976  a  1976 

Dimensão e suporte

1 ficheiro áudio MP4, 12m19

Registo audiovisual

https://vimeo.com/1085448276

Âmbito e conteúdo

Programa emitido pela Emissora Nacional e produzido pelo Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) sobre a resposta do Aníbal à carta da prima Laurinda em que este refere que os dois mundos são distintos: o do campo e o das cidades. Expressa a opinião de que se deviam juntar os conhecimentos destes dois mundos ao convívio dessas pessoas tão diferentes, para se complementarem conhecimentos e que, tudo isto, deveria ser feito com a ajuda dos militares. As várias temáticas são intercaladas com música.

Cota antiga

P8P2

Idioma e escrita

Português

Existência e localização de originais

Áudio analógico (em fita de arrasto).

Existência e localização de cópias

Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).

Transcrição

(Aníbal) Vamos entender, um pouco orgulhoso, vamos lá, por saber que a prima se tem juntado aí em casa, com a tia Rita, o Manel da tenda, a tia Rosa e o nosso primo José, para perceber as minhas cartas, como a prima diz. No meio de tudo isto, só é pena que continue com esse malfadado reumático, que tanta diferença lhe deve fazer, a prima que era tão mexida. Lembramo-nos muito de si, a noite de Natal e eu até tive uma certa comoção ao provar o seu salpicão, que estava tão bom. Desculpe esta maneira de dizer, mas o salpicão foi objeto concreto, a coisa que me fez lembrar a nossa querida terra, o frio daí, mas também a lareira, as pessoas pobres, como nós eramos, mas também simples e com um calor humano e um tempo por estarmos uns com os outros, que agora nunca mais tive.01m29: (Aníbal) Porque eu trabalho muito, ganho bem, gosto da Lídia e dos meus filhos, mas sinto que me falta qualquer coisa. A vida aqui é à pressa, sem encanto natural, as pessoas estão sempre com dores de cabeça e cheias de nervos. Às vezes zango-me com a Lídia ou com um dos piquenos sem razão aparente, só porque estou cansado e agressivo, mas já não poderia voltar para aí, já não poderia voltar a viver na aldeia, sem jornais, sem televisão, nem cinema, sem os meus amigos daqui, seria melhor chamar-lhes conhecidos, em vez de amigos e depois os piquenos não tinham Liceu para estudar, seriam separados de nós. Mesmo a Lídia não arranjaria aí emprego, ela que não se satisfaz em ser só dona de casa, eu próprio não poderia exercer a minha profissão, como exerço aqui. É estranho, nunca mais tinha pensado nestes problemas, nestes dois mundos, que não só nos separam, como separam duas partes de mim.03m01: (Aníbal) E foi bom que me tenha começado a escrever sobre os seus problemas nesta nova situação que agora se vive em Portugal, situação que eu talvez entenda um pouco melhor do que a prima, porque, pode ter a certeza, que não sou só eu a ensinar e explicar. Tanto a prima, como o Manel ou a tia Rita ou a tia Rosa também têm coisas para me explicar e são coisas que não se aprendem nos livros. Vocês sabem coisas que nunca soube ou já esqueci e ainda não sabem coisas que cá em Lisboa, se aprendem, mas e agora penso no futuro, no futuro dos nossos filhos, no futuro de todos os filhos deste país, temos de juntar estes dois tipos de conhecimento.04m05: (Aníbal) Olhe que o meu filho Joãozinho viu no outro dia um galo saltar para cima de uma galinha e foi enxotá-lo pensando que estava a fazer-lhe mal e nunca na vida viu uma cabra, senão no Jardim zoológico.04m33: (Aníbal) Afirmei-lhe noutro dia que os pobres dos campos e os pobres das cidades se tinham de juntar para acabar com os Melos e os Chapalimaud daqui e os Lopes e Ferreiras daí, pois olha se não juntarem os conhecimentos nunca o conseguiram. A este juntar dos conhecimentos que os intelectuais, que a prima não gosta lá muito, querem dizer quando falam em unir a teoria e a prática. Talvez nós agora pudéssemos fazer isso, o Manuel diz que gostava de ver os militares a ajudar na construção de estradas, no transporte de géneros e também nos aspetos da saúde, levando médicos ou evacuando feridos ou doentes dos lugares mais distantes e eu com este paleio aqui nesta carta também tive uma ideia, porque não haveriam os militares de trazer a gente daí, que não tem posses, a ver Lisboa ou o Alentejo e o Algarve e levar também os de cá a conhecer os do norte, os da cidade conhecer os do campo e os do campo conhecer os da cidade. Assim, os trabalhadores do campo e os operários da cidade poderiam falar diretamente uns com os outros e expor os seus próprios problemas e já não seria preciso aviar o sermão a quem não o encomendou.06m20: (Aníbal) Temos que nos conhecer melhor, todos nós, os portugueses. Lembrei-me agora de uma história, imagine que a Maria Antonieta, que foi Rainha da França, a ser Austríaca, até casar, não saiu do seu país e quando se casou com o Rei Luís XVI da França, viajou diretamente para a região de Paris e durante os anos que lá viveu, até à sua morte, nunca de lá saiu, nunca conheceu a França que era o seu novo país e é espantoso que sendo a Áustria um país sem contato com o mar e a França um país com belas praias e zonas marítimas, nunca Maria Antonieta teve sequer a curiosidade de ir dar uma espreitadela ao mar e mais como, pelo contrário, gostaria de ter conhecido terras longínquas exóticas, mandou edificar nos arredores de Paris vários palácios com jardins cheios de plantas trazidas de todo o mundo.07m41: (Aníbal) Isto foi um exemplo, a Rainha agiu assim por causa daquela coisa de que eu já lhe falei que é a ideologia. Poderia ter viajado e não quis e nós aqui muitas vezes poderíamos tentar conhecer melhor os problemas dos outros, completar os nossos conhecimentos, com os conhecimentos das outras pessoas e não o fizemos. Julgo que era nisso que os militares poderiam ajudar muito, como já disse, e olhe que vai ver que os Lopes e os Ferreiras, quando souberem desta ideia, não vão gostar nada. Olhe prima Laurinda, a carta já vai longa e vou terminar. Continue a falar-me dos problemas daí, dos seus problemas, porque a mim também me ajuda. Beijos e saudades da Lídia e dos pequeninos para a prima, de mim mais um grande abraço de amizade. Aníbal. Segue com esta carta uma lembrança que escolhi para si.11m09: Estado Maior General das Forças Armadas. Está assim concluída mais uma emissão do programa especial realizado por um grupo de trabalho sob a incumbência do Estado Maior General das Forças Armadas. Este programa de intervenção social aparece na Emissora Nacional aos domingos entre as nove e as onze da manhã. Através dele, das vozes e da música que por aqui passaram o MFA apresenta os bons dias aos militares, aos portugueses.