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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 9 (II), Trilha 1): Continuação da história do Joaquim.

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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 9 (II), Trilha 1): Continuação da história do Joaquim.

Detalhes do registo

Nível de descrição

Documento simples   Documento simples

Código de referência

PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/029

Título

Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 9 (II), Trilha 1): Continuação da história do Joaquim.

Datas de produção

1976  a  1976 

Dimensão e suporte

1 ficheiro áudio MP4, 29m25

Registo audiovisual

https://vimeo.com/1085448434

Âmbito e conteúdo

Programa emitido pela Emissora Nacional e produzido pelo Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), continuando a história do Joaquim, como ele conseguiu dar a volta à vida depois de ter saído da fábrica, eludido por um contrato de trabalho, que lhe foi proposto pelo Sr. Alfredo e de ter sido enganado por esse. Esta história representa bem o imperialismo, concluindo-se que é essencial para a revolução portuguesa alargar aos povos do terceiro mundo as relações económicas, de modo a permitir o justo preço dos produtos vendidos ou trocados. As várias temáticas são intercaladas com música.

Cota antiga

P9P2

Idioma e escrita

Português

Existência e localização de originais

Áudio analógico (em fita de arrasto)

Existência e localização de cópias

Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).

Transcrição

Joaquim pensou, ou melhor, não pensou. Assim, começou a fazer cada vez mais caixotes para embalagens. Durante os primeiros meses fez das tripas coração, quase que não descansava e foi-se mantendo na fábrica. Resultado desse esforço, é evidente que caiu à cama. Caiu à cama pela primeira vez na sua vida e também pela primeira vez, imaginem, chamou o médico. Melhor dizendo, foi até o Senhor Alfredo que chamou o Doutor e que lhe pagou a despesa. Não foi difícil ao Senhor Alfredo convencer o Joaquim que devia deixar o trabalho da fábrica, para tanto acenou-lhe com a promessa de mais caixotes por mês, num futuro muito próximo.01m42: (Mulher) Tu pensas que isto pode continuar 'Jaquim'? Morres me para aí e fico eu com quatro 'ganatos' ao colo, quase. Vens derreado da fábrica, todas as tardes, deitaste aos caixotes, vais para a cama a desoras, como é que pode ser? Então a gente não arranja nem tempo para respirar e arranjar os dois a horta e tratar dos animais?(Joaquim) Não rezingues mais mulher, vou deixar a fábrica.02m34: Passaram-se alguns anos e o Joaquim continuava na sua faina de fazer caixotes. Tinha alargado a casa, já fizera até um alpendre, que depois até o fechou, um alpendre onde armazenava as madeiras. Com o Joaquim trabalhavam, além do João, agora o outro filho mais novo o Manuel, mas apesar do crescimento da fabricação dos caixotes, nem tudo corria bem para o Joaquim. É que, desde aquela célebre manhã de domingo, em que o Senhor Alfredo lhe propusera o contrato de três anos, com os tais três escudos e setenta de aumento por caixote, nunca mais o preço fora revisto.03m56: Por diversas ocasiões o Joaquim se queixara e insistira mesmo, com o Senhor Alfredo, sobre a revisão dos preços.04m48: (Joaquim) Bom dia Senhor Alfredo!(Alfredo) O que é que há Joaquim?(Joaquim) Eu já não sei como é que lhe hei de dizer, mas o Senhor Alfredo nunca mais quis ver esta coisa do preço dos caixotes. Ora o Senhor Alfredo sabe muito bem que a madeira está caríssima.(Alfredo) Ó Joaquim, a última encomenda de trezentos caixotes está atrasada, vossemecê parece…(Joaquim) Desculpe Senhor Alfredo, mas o preço dos caixotes que…(Alfredo) Eu é que sei as linhas com que me coso, já lhe tenho dito que o preço dos caixotes não o posso alterar, não é possível modificar o contrato. Vossemecê bem sabe que se eu pudesse já lhe tinha mudado as condições…(Joaquim) Senhor Alfredo lá sabe dos seus botões, mas eu, desculpe-me que lhe diga, sei dos meus.05m51: O Joaquim lá ia ripostando como podia e como sabia, que tudo estava caríssimo, que tudo tinha aumentado, a vida era fogo e que assim dentro de poucos meses estava a perder dinheiro em cada caixote que fizesse, que era impossível manter o mesmo preço antigo por caixote, que as madeiras tinham subido para o dobro, que os pregos e as colas também estavam muitíssimo mais caros, que era obrigado a pagar quase tudo a pronto, enfim, que era impossível continuar a trabalhar da mesma maneira.06m54: As conversas entre o Joaquim e o Senhor Alfredo iam-se azedando cada vez mais e foi pior ainda quando o Senhor Alfredo concordou em rever o preço por caixote.07m15: (Alfredo) Bem Joaquim, posso-lhe pagar mais cinco tostões por caixote.(Joaquim) Cinco tostões? Ó Senhor Alfredo, o senhor não está a mangar comigo, pois não?(Alfredo) Eu já lhe tenho dito que das minhas contas sei eu.(Joaquim) E eu sei das minhas, ó o Senhor Alfredo não tem memória? Isto é mas é fazer pouco do trabalho dos pobres.(Alfredo) Não querendo, diga Joaquim.(Joaquim) Digo senhor Alfredo, digo que não tenho outro remédio senão sujeitar-me, por enquanto.08m37: A partir daí o Joaquim começou a pensar.12m00: A partir daí o Joaquim começou a pensar, a pensar como poderia ver-se livre do senhor Alfredo que só lhe dava trabalho para o roubar descaradamente. Meteu-se a caminho e percorreu o Norte e o Centro do país, oferecendo a sua experiência na fabricação de caixotes e embalagens a quem dela precisasse. Regressou a casa passados dias.12m44: (Joaquim) Nem sei o que te hei de dizer mulher, venho acabrunhado de todo.(Mulher) Vens, mas é pálido 'home'.(Joaquim) Pensa tu, que andei pelo Norte e pelo Centro e descobri que o Senhor Alfredo afinal, saiu-me o rei dos caixotes no Centro e no Norte do país. Só encontrei quem lhe compre os caixotes a ele.(Mulher) Mas tu não explicaste como é que ele te paga e encomenda os caixotes 'home'?(Joaquim) Expliquei! Então, não havia de explicar? Mas imagina lá tu, mulher, que encontrei mais Joaquins do que migalhas que trago aqui no albornoz. Tudo trabalha para o Senhor Alfredo e não é só caixotes, ele é embalagens de toda a espécie, o manganão negoceia em tudo sem deixar escapar nada. Controla tudo!(Mulher) E tu desistes 'Jaquim'?(Joaquim) Não!14m31: Era verdade, o Joaquim não é era desses que desistem às primeiras. Agora sabia a verdade que o Senhor Alfredo escondia e resolveu guardá-la para si. Meses depois teve uma aberta e zás, faz uma viagem ao sul do país. Teve mais sorte, encontrou um outro comprador de caixotes, que pagava melhor o seu trabalho. Durante meses trabalhou para o cliente do Sul, sem o Senhor Alfredo saber, mas um dia, nas idas e vindas do Senhor Alfredo à oficina do Joaquim.16m46: (Alfredo) Ó João!(João) Bom dia Senhor Alfredo!(Alfredo) Que raio de caixotes são esses que estás para aí a arrumar? Para mim, não são porque não lhes conheço as medidas.(João) O meu pai é que sabe Senhor Alfredo.(Alfredo) Onde é que está o teu pai? Vai chamá-lo!(Mulher) O 'Jaquim' está para o Algarve Senhor Alfredo. Muito bom dia a vossemecê!(Alfredo) Que diabo foi ele fazer para o Algarve? Está a banhos?(Mulher) Foi tratar da vida dele. Ele é que pode explicar.(Alfredo) Já percebi! Já percebi tudo! Fui traído é o que é. Fui traído!18m05: Alfredo assustou-se, viu o perigo, para ele uma só ideia de descobrir o concorrente e entrar em acordo com ele, assim tentou fazer rapidamente, mas já era tarde. É que o Joaquim tinha, entretanto, assegurado um terceiro, com quem firmara um contrato de grande volume. Para poder responder a este novo contrato teve de falar com outros 'Joaquins', do Norte e do Centro, que também estavam como ele, nas mãos do Senhor Alfredo. Estes 'Joaquins' acabaram por formar uma cooperativa e estavam dispostos a abandonar o Senhor Alfredo, caso este não satisfizesse os preços justos a que eles tinham direito.22m43: (Mulher) 'Jaquim', ó 'Jaquim', tás mouco 'home'?(Joaquim) Mulher, não vês que estou aqui a ver estas coisas da cooperativa, a ver se isto anda para a frente. Que é que há? (Mulher) Ó, nada de importância. (Joaquim) Então se não é nada de importância.(Mulher) 'Jaquim'?(Joaquim) Que é que há agora?(Mulher) Aposto que não tarda aí o Senhor Alfredo a propor-te um preço melhor. Outro dia, encontrei a mulher dele no mercado.(Alfredo) Ó da casa! Ó Joaquim! Pode-se entrar?(Joaquim) Bom dia Senhor Alfredo! Vem mesmo a calhar, que era para lhe dizer que a encomenda que me fez há duas semanas está pronta.(Alfredo) Não é por isso que venho cá Joaquim! Mas, já agora, aproveito, claro, e levo-lhe os caixotes, se vossemecê estiver de acordo, queria era propor um negócio de preço diferente, um pouco melhor, que me diz a isto Joaquim, hã?(Joaquim) Eu acho muito bem e até tinha pensado dizer-lhe, Senhor Alfredo, que depois dessa encomenda, tinha que deixar as suas encomendas um pouco de parte. É que sabe? Os clientes lá do Sul…(Alfredo) Eu sei Joaquim, eu sei. Mas homem vamos então tratar deste nosso assunto, que diabo, vossemecê não vai deixar assim do pé para a mão de trabalhar para mim, ora não?25m02: Esta história que acabámos de contar com os 'Joaquins' e os 'Alfredos', poderia muito bem passar-se com os povos e os países dependentes economicamente dos imperialismos. De facto, para se avançar em termos de independência, é preciso alargar as relações económicas com aqueles povos, que tal como nós lutam pela libertação do cerco imperialista e que como nós são explorados e saqueados pelos povos mais ricos.28m38: É por isso essencial para a revolução portuguesa não manter apenas as relações económicas clássicas, mas alargá-las aos povos do terceiro mundo, de modo a permitir o justo preço dos produtos vendidos ou trocados.