Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 10 (II), Trilha 1): Socialismo.
Nível de descrição
Documento simples
Código de referência
PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/033
Título
Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 10 (II), Trilha 1): Socialismo.
Datas de produção
1976
a
1976
Dimensão e suporte
1 ficheiro áudio MP4, 30m52
Âmbito e conteúdo
Programa emitido pela Emissora Nacional e produzido pelo Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) sobre Socialismo e vias para o socialismo, concluindo-se que o socialismo só pode ser obra dos próprios trabalhadores. Para isso é necessário que os trabalhadores fortaleçam as suas organizações democráticas, dominem o sector estatizado em que estão inseridos, lutem pela socialização efetiva das relações de produção, que empreendam uma prática possibilitando os dados culturais essenciais que permitam a gestão das unidades, que distingam as propostas vindas de fora das suas próprias propostas, saber criticar e optar, saber repelir as manobras desviacionistas alheias aos seus verdadeiros interesses, saber dizer não à burocracia. Alusão ao regime fascista de Salazar e Caetano, às classes desfavorecidas e ao Analfabetismo. O conhecimento como pedra fundamental da revolução, da democracia, do controlo operário, do socialismo e que a revolução cultural é urgente. As várias temáticas são intercaladas com música.
Cota antiga
P10P2
Idioma e escrita
Português
Existência e localização de originais
Áudio analógico (em fita de arrasto)
Existência e localização de cópias
Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).
Transcrição
14m46: No Portugal de hoje, tornou-se tão vulgar falar-se de socialismo e de vias para o socialismo que podemos ser levados a pensar que toda a gente tem ideias claras sobre o assunto. De facto, muitas e muitas vezes se repetiu que não há socialismo sem socialização dos meios de produção e das próprias relações de produção e que também não há socialismo quando não forem os trabalhadores a controlar e a gerir o poder político e económico. Em resumo, foi repetido ao longo do processo revolucionário que o socialismo só pode ser obra dos próprios trabalhadores.16m41: Se refletirmos com atenção sobre os pontos que acabámos de enunciar estaremos em condições de ver que longas e árduas tarefas terão de ser empreendidas pelos operários, camponeses, mineiros, pescadores e demais camadas trabalhadoras interessadas na construção do socialismo, isto para não se verem reproduzidos em Portugal vícios semelhantes aos cometidos em outras situações históricas e noutras paragens. Para se avançar para o socialismo, repetimos, para o socialismo é forçoso que os trabalhadores fortaleçam as suas organizações democráticas, dominem o setor estatizado em que estão inseridos, lutem pela socialização efetiva das relações de produção, terão de empreender uma prática possibilitando os dados culturais essenciais que permitam a gestão das unidades de produção ou empresas, deverão saber distinguir as propostas vindas de fora das suas próprias propostas, saber criticar e optar, saber repelir as manobras desviacionistas alheias aos seus verdadeiros interesses, saber dizer não à burocracia, enfim, saber, saber, sempre saber.18m51: Todos nós sabemos, por exemplo, que o regime de Salazar e Caetano tudo fez no sentido de manter na mais medieval ignorância o povo português. Neste aspeto, o fascismo foi brilhante, coerente mesmo, herdámos ignorância, pobreza, dependência. Em tudo isto foram, como sempre, as classes mais desfavorecidas, operários, camponeses, pescadores, mineiros, as que pagaram as enormes custas do crime cometido. Assim, não é difícil de ver que há uma grande revolução a fazer no campo do saber, portanto, da cultura para se desvanecer e vencer o abismo herdado.19m55: Há pouco quando se falou em socialismo e em vias para o socialismo, dissemos que são precisamente os operários e os camponeses aqueles que mais importância poderão ter na construção da sociedade socialista que se pretende ver erguida em Portugal. Agora, dissemos que são estas, também, as classes desfavorecidas, as que mais caro pagaram a ignomínia cometida pelo fascismo. Ignomínia essa, que para além da exploração económica é sem dúvida a exploração criminosa chamada analfabetismo.20m44: Compete a todas as forças revolucionárias lutar para que tal crime se apague da história do nosso país. Nós os que, de um modo ou doutro, conseguimos escapar à ignorância que nos dominou ao longo de quase cinquenta anos de obscurantismo, temos o dever para com essas classes desfavorecidas de restituir o pouco que ainda pode ser restituído e esse pouco é o conhecimento, a cultura, dar o que é de dar, será o mínimo que qualquer homem pode fazer neste país em revolução.21m47: Ao apartidarismo, aos militares, ao MFA, enfim, compete criar as condições que possibilitem pôr em marcha a democratização do conhecimento. A restituição do conhecimento a quem dele foi espoliado pode vir a ser um passo muito sério e muito grande no caminho de uma revolução verdadeiramente socialista e democrática que se pretende ver alicerçada em Portugal. Enquanto a classe operária e camponesa não tiver os instrumentos culturais que permitam um autêntico controlo operário, será ilusório, para não dizer impossível, avançar-se com êxito para o socialismo. O que pode acontecer e seria quase certo que aconteceria é apenas um simulacro do socialismo feito através dos que na posse desse conhecimento o aplicam em nome dos trabalhadores, mas mantendo, no fim de contas, numa dependência cultural e económica esses mesmos trabalhadores. Criar as condições para que esse risco não se repita é afinal, criar as condições que irão permitir, a curto prazo, aos trabalhadores saber tudo o que diz respeito ao seu local de trabalho.23m52: Não é deixando os trabalhadores como até aqui, na situação de meros obreiros duma engrenagem onde quotidianamente hipotecam a vida, repetindo os mesmos gestos, sem poderem ter a perspetiva global dessa engrenagem, não é deixando, pois, as coisas ficarem como estão, que se fortalece o controlo operário. De facto, apesar de institucionalizado o controlo operário está ainda longe de poder ser exercido autonomamente e continuará a estar enquanto os trabalhadores não lutarem pela revolução cultural a que tem direito e que os libertará do risco da burocracia.24m56: Pelo que temos vinda a dizer, facilmente se depreende que a cultura, mais exatamente, o conhecimento é a pedra fundamental por onde passa a revolução, a democracia, o controlo operário, o socialismo, será ingénuo para não dizer mesmo irrealista, tendo em conta as experiências existentes no mundo, pensar-se na construção do socialismo, na construção da democracia, na liberdade, enfim, sem a trave-mestra chamada conhecimento. Atrasar a revolução cultural é um erro extremamente grave para poder ser cometido nesta hora difícil por que passa a revolução, a vida do nosso país.26m06: Compete a todos nós contribuir ativamente para se lançarem as bases da revolução cultural, as fábricas, as empresas, as granjas coletivizadas, são os locais onde se deverá iniciar o processo cultural, de acordo com os interesses de todos os trabalhadores, sem dirigismos, sem vanguardismos, sem sectarismos, sem paternalismos, humildemente.