Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 9 (I), Trilha 1): Intervenção do general Costa Gomes.
Nível de descrição
Documento simples
Código de referência
PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/027
Título
Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 9 (I), Trilha 1): Intervenção do general Costa Gomes.
Datas de produção
1976
a
1976
Dimensão e suporte
1 ficheiro áudio MP4, 28m45
Âmbito e conteúdo
Programa emitido pela Emissora Nacional e produzido pelo Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), onde o general Costa Gomes enumera as principais preocupações da chefia da Nação, fazendo um ponto da situação do País e informando quais as grandes linhas de orientação para a atividade governativa. Refere a difícil ação governativa do ano de 1975, ano conturbado devido à instabilidade do povo, das situações de conflito existentes e da desorganização da economia do país. Apresenta algumas medidas e soluções para o País, medidas de austeridade num cenário de crise em que a primeira delas é a eliminação dos excessos. Deseja Paz às quatro novas Nações (a partir de 1975), países de língua portuguesa e referindo o fim de uma guerra de treze anos. Especial referência a Timor explicando o porquê de Portugal ter recorrido à ajuda das Nações Unidas, para o caso de Timor e da sua autodeterminação. Aborda os temas: Diplomacia, Direitos Humanos, Paz, Fraternidade, Desarmamento. Alerta que será exigido um esforço ao povo português, para que possa haver uma recuperação da economia. As várias temáticas são intercaladas com música.
Cota antiga
P9P1
Idioma e escrita
Português
Existência e localização de originais
Áudio analógico (em fita de arrasto).
Existência e localização de cópias
Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).
Transcrição
Estado Maior General das Forças Armadas. Está no ar, a partir deste momento, mais uma edição do programa especial do Estado Maior General das Forças Armadas, realizado sobre sua incumbência por um grupo de trabalho. Este programa de intervenção social aparece na antena da radiodifusão portuguesa, primeiro programa, Onda Média e Modelação de Frequência, todos os domingos entre as nove e as onze da manhã. Por intermédio das vozes e da música que por aqui vão passar, o MFA apresenta os bons dias aos militares, aos portugueses.04m20: (GEN Costa Gomes) No início deste ano, de 1976, sinto ser meu dever comunicar-vos as principais preocupações que a chefia da Nação, que me foi confiada, necessariamente envolve. Volvido um ano, tão fértil em significado político, é tempo de fazer um breve ponto da situação e de procurar uma enquadrante para as grandes linhas de orientação da atividade governativa. Não foi fácil, a ação governativa ao longo de todo o 1975, ano conturbado, em que os acontecimentos políticos gerados traduziram quer a concorrência das forças em confronto, quer a instabilidade típica de um povo, às gerações arredado da vivência e empenhamento em tais fenómenos. A destruição de antigas estruturas inaceitáveis umas, anquilosadas outras, tem sido tarefa que inevitavelmente conduziu a uma determinada desarticulação que, um pouco por toda a parte, tem afetado os organismos estatais e privados e tem gerado entre os portugueses situações de conflito da divisão e não raros casos de angústia. Como circunstâncias fundamentais verificamos a desorganização da economia do país, sendo cada vez mais urgente, a rápida equação das medidas e soluções que permitam aos portugueses encararem com esperança o dia de amanhã e a estagnação cultural que degrada dia-a-dia o nosso povo, negando-lhe a técnica e o progresso que só o estudo e a preparação nos conferem.06m50: (GEN Costa Gomes) As medidas de austeridade que serão postas em prática têm de se entender, não só dentro do contexto de crise, que há muito as vinha exigindo, mas de igual modo, no sentido de uma reorientação de consumos mais consentânea com uma sociedade, em que se pretende respeitar o necessário e diminuir o supérfluo. É natural que a acelerada dinâmica que a nossa revolução tem conhecido, leve a situações em que a definição dos direitos e deveres seja algo imprecisa, em que se manifeste uma certa indefinição de poderes, em que dificilmente se encontrem instituições eficientes, no âmbito das quais, os problemas tenham soluções apropriadas. Tal não pode, no entanto, justificar os atos da caracterizada usurpação de direitos alheios, nomeadamente aqueles que resultam do desprezo pelas regras fundamentais do comportamento democrático e da tolerância, em que se fundamenta a convivência humana. A alegria do 25 de Abril e o comportamento admirável de que o povo deu provas no ato eleitoral do ano findo, exigem que tais excessos sejam eliminados.08m46: (GEN Costa Gomes) As reivindicações impossíveis, bem como a incompreensão, senão mesmo a má-fé patronal, as ocupações ilegais como sucedâneo impróprio de uma reforma agrária, do mesmo modo, que a resistência de latifundiários. A quebra acentuada da produção, assim como as novas formas de sabotagem económica, tudo são exemplos de fenómenos que cada vez mais se tem de evitar e sujeitar, inequivocamente, ao integral cumprimento das Leis, que regulam a nossa vida em sociedade. Setor sintomático, entre outros, infelizmente numerosos, que poderiam nesta perspetiva ser apontado é, sem dúvida, o da informação. Não se há de estranhar que há saída de quase meio século de censura e de súbito libertos os órgãos de informação tenham cometido alguns excessos, mais fruto de uma desaprendizagem processual que de viciação profissional e ética. Agora, mais conscientes dos riscos sociais desses excessos, parecem criadas as condições necessárias para que passemos a dispor de uma informação simultaneamente livre, responsável e verdadeira, aberta a todas as correntes do pensamento, mas escrupulosamente fiel às exigências da verdade objetiva.10m41: (GEN Costa Gomes) Profundo desejo de paz, é sentimento que não confinamos ao nosso espaço nacional, antes desejamos ver dilatado a todos os quadrantes do mundo. Julgo significativo o nosso contributo nesse sentido, fazendo nascer quatro novas nações em 1975, e terminando uma guerra longa de mais de treze anos. Depositamos as maiores esperanças no desenvolvimento de relações, em todos os campos, com esses novos países de expressão portuguesa, a recuperação em áreas de interesse mútuo e dentro da melhor ética das relações entre estados soberanos é facto que desejamos intensamente ver concretizado e ao qual dedicamos todo o nosso carinho e atenção governativa. Quiseram interesses alheios aos do povo angolano, que a luta contra o anterior regime se seguisse outra batalha, mais sangrenta e mais dolorosa, porque se desenvolveu entre irmãos. Esperamos sinceramente, que no mais breve período de tempo, seja possível o entendimento e unidade entre angolanos para a ultrapassagem das horas amargas e dramáticas que estão vivendo.12m25: (GEN Costa Gomes) O povo português assistiu e assiste às vicissitudes da descolonização de Timor e às provações por que passam as suas gentes. Retorno longínquo e desde sempre o mais difícil de apoiar por Portugal, veio ultimamente a ser cenário de lutas 'freticidas' e intervenção estrangeira. Esgotados, que foram as nossas capacidades, foi Portugal obrigado a recorrer à Organização da Nações Unidas, que não regateou o abalo de compreensão e apoio para a nossa posição. E porque é pelo povo de Timor que continuamos a empenhar os nossos esforços, estamos decididos a apoiar e a colaborar nas resoluções por este organismo possam ser tomadas com vista a garantir o alienável direito do povo de Timor a sua autodeterminação.13m43: (GEN Costa Gomes) No plano internacional é nítido o quão diferente se apresenta hoje o panorama das nossas relações. À imagem de um Portugal isolado por uma política obstinada, procuramos fazer suceder um espírito de maior abertura a todos os povos. Fundada na liberdade e dignidade do homem, na oposição a todas as formas de discriminação, exploração e injustiça e na observância aos princípios essenciais da convivência internacional. Defendemos a solução pacifica dos conflitos, a igualdade soberana entre estados, o repudio das ingerências externas no destino dos povos, o respeito dos sistemas sociais e dos regimes políticos das nações. É nosso profundo desejo a paz e por isso nos preocupam as questões do desarmamento, a proliferação das armas nucleares e saudamos a 'detenta' atual, onde, no entanto, se vislumbra de novo o acumular de nuvens sombrias.15m12: (GEN Costa Gomes) Se o nosso papel histórico nunca pode ser desligado do espaço europeu a que pertencemos, a mesma posição atlântica leva-nos a recordar a nossa história de intermediários entre povos. Parece corresponder à nossa universalidade original a abertura aos países do terceiro mundo, que no decurso deste ano devemos fortalecer. Além dos tradicionais laços de amizade com países da América Latina e da Ásia, estabelecemos já sólidas relações com os países não alinhados, alguns dos quais foram particularmente influentes no processo da descolonização. Participamos, como convidados, na conferência de Lima, dos países não alinhados, onde tivemos oportunidade de estabelecer contatos que reportamos do maior interesse.17m03: (GEN Costa Gomes) Podemos observar, finalmente, que neste ano a diplomacia portuguesa ganhou uma nova dimensão. Desejosos de relações amigáveis com todos os povos do mundo, subscrevendo os valores universais do respeito dos direitos humanos, da dignidade dos povos e da melhoria das condições de vida, de maior justiça social inspirados no espírito democrático do 25 de Abril, alimentamos a esperança possa ser uma realidade a paz a que todos aspiramos. Gostaria de poder anunciar-vos um novo ano liberto de profundas preocupações, mas tal não é, infelizmente, possível. São árduos os caminhos da paz e da liberdade e cheios de escolhos e sacrifícios os caminhos da independência. No entanto, é com esperança que devemos encarar os tempos que se avizinham.18m39: (GEN Costa Gomes) Mas para que tal, venha a ter raízes profundas, é fundamental que a paz volte aos espíritos, a fraternidade e a tolerância sejam mais palavrosas e vocações de princípios democráticos, uma realidade edificada à custa de esforços construtivos. A recuperação da economia e a revolução cultural vão exigir de todos os portugueses sacrifícios e esforços concretos. Desejamos que a vontade férrea dos nossos estudantes e trabalhadores, de todas as atividades, as torne possível e dentro de algum tempo nos sentamos orgulhosos por termos sabido encontrar o caminho certo para uma sociedade justa, onde a dignidade do homem surja restituída à sua autêntica dimensão. A nação rejuvenescida após novecentos anos de uma história ímpar assim no-lo exige.25m29: Nos países avançados, altamente industrializados, pode dizer-se que o sistema capitalista deu origem a uma nova e poderosa classe social, constituída por aqueles que detêm o poder técnico, os tecnocratas. A própria palavra, de origem grega, composta por tecne – técnica e caratea – poder, quer precisamente dizer, isso mesmo, os que adquiriram o poder técnico.27m03: Os tecnocratas tornaram-se uma nova classe social, cuja força está ainda longe de se poder descrever com rigor, quanto aos limites da sua importância enquanto que classe dominante.Sabe-se que em muitos casos, os tecnocratas têm vindo a substituir, com êxito, nas fábricas, nos laboratórios, nas empresas, nos bancos. Os velhos proprietários jurídicos do capital detendo nas suas mãos a direção e a gestão do desenvolvimento económico, deixando aos antigos proprietários o papel parasitário de recebedores de dividendos.Ora dominando os tecnocratas em muitos casos, como dissemos, os setores chave da economia das sociedades industriais avançadas, o assalto ao poder político é o passo imediato que se impõe, de modo a permitir a racionalização planificada do modo de produção. Assim, libertam este mesmo modo de produção de certos condicionalismos irracionais.