Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 7 (I), Trilha 2): continuação da intervenção do capitão Sousa e Castro.
Nível de descrição
Documento simples
Código de referência
PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/020
Título
Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 7 (I), Trilha 2): continuação da intervenção do capitão Sousa e Castro.
Datas de produção
1975-12
a
1975-12
Dimensão e suporte
1 ficheiro áudio MP4, 30m00
Âmbito e conteúdo
Programa emitido pela Emissora Nacional e produzido pelo Estado-Maior General das Forças Armadas, com continuação da intervenção do capitão Sousa e Castro, que fala da hipótese de libertação de alguns militares detidos no 25 de Novembro. Refere que o seu cargo era muito ingrato e, de muitas vezes, ser colocado em situações difíceis. Retomou a sua atividade depois do 25 de Novembro; O programa prossegue com uma reflexão sobre alguns pontos do Documento do MFA “Lei Constitucional para reestruturação das Forças Armadas" nomeadamente: Apartidarismo, Consciência Revolucionária, Democracia, Independência Nacional, Socialismo. Recusa a cópia de modelos vindos de fora, de outras realidades, referindo o Spínolismo, a Crise Palma Carlos, o 28 de Setembro, o 11 de Março e o 25 de Novembro. Referência aos militares que estiveram na Guerra Colonial e incentiva à aquisição de capacidade crítica e ética para que se possa caminhar como revolucionário com a revolução. As várias temáticas são intercaladas com música.
Cota antiga
P7P1
Idioma e escrita
Português
Existência e localização de originais
Áudio analógico (em fita de arrasto).
Existência e localização de cópias
Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).
Transcrição
(Capitão Sousa e Castro) Que pretende significar apenas que as pessoas que são más acabam sempre por pagar, seja neste mundo ou no outro, como diz também o povo, tem sido levado à prática a título de vingança alternada aqui no nosso processo político, quer dizer, seja nas fábricas, nas unidades de produção, nos organismos burocráticos, até de Estado, nas repartições públicas, nos centros onde as pessoas trabalham e convivem, sempre que há uma alteração de hegemonia política, partidária ou da direção política, as pessoas que anteriormente tinham sido reprimidas, tinham sido saneadas, que tinham sido muitas vezes ofendidas são elas que vão num afã tentar a sua vingançazinha e eu digo-lhe que tive um bocado de receio que isso começasse a acontecer no 25 de Novembro, nós temos efetivamente, a comissão de inquérito e as pessoas interessadas, portanto, na resolução rápida do processo judicial do 25 de Novembro, temos tido a máxima preocupação nisso e posso lhe dizer que não foram cometidas, comparativamente com algumas coisas que aconteceram anteriormente, não foram cometidas injustiças e os processos serão rapidamente feitos, as pessoas rapidamente julgadas.01m56: No momento exato em que nós gravamos esta entrevista, no seu gabinete, a imprensa admite a hipótese de libertação próxima, de militares que foram detidos depois do 25 de Novembro, o Capitão Sousa e Castro está em condições de me poder confirmar isso ou não?02m13: (Capitão Sousa e Castro) Eu não lhe posso confirmar, mas posso dizer-lhe que essa hipótese é admissível.03m04: O Capitão Sousa e Castro está, portanto, à frente de um serviço que tem aspetos profundamente ingratos, se eu percebi bem a sua…03m12: (Capitão Sousa e Castro) Profundamente ingratos, porque eu volto a dizer-lhe, o pano de fundo político, que digamos, a envolvente política duma situação destas que é, está-se a superintender um serviço que está, portanto, relacionado com o desmantelamento dum sistema fascista, queria logo uma carga política e psicológica, sobre a própria pessoa, que está a superintender o serviço, que lhe pode ser profundamente negativo sobretudo se essa pessoa, for, tiver, digamos, eu não digo motivos, para ser atacado, porque eu não aceito que se libertar uma pessoa justamente, me ataquem, mas se estiver, por exemplo, uma imprensa hostil a qualquer libertação, se os jornalistas em Portugal, não quiserem de facto, virem aqui falar comigo, certificar-se porque é que as pessoas são libertadas e quais são as condições prisionais das pessoas e quais são as culpas que são, o aspeto legal, qual é, portanto, a situação jurídica das pessoas, se os jornalistas não quiserem, de facto inteirar-se, eu estou a essa disposição, apenas atacarem o serviço de coordenação, na comissão de extinção, só porque há pessoas que estão a ser postas em liberdade provisória, ou em residências fixas, portanto, a serem libertados das prisões, pois, como deve calcular, estou numa situação extremamente ingrata, porque o que algumas franjas sociais farão o seguinte raciocínio, pois ele é reacionário, pois está a libertar estas pessoas todas e isso é evidente que não me vai fazer recuar naquilo que eu penso que deve ser feito, a mim pessoalmente, não faz, mas coloca-me numa situação difícil como começou por dizer.05m48: O Capitão Sousa e Castro, foi, portanto, o primeiro convidado do programa do Estado-Maior General das Forças Armadas, a partir da sua retomada de atividade depois do 25 de novembro, contamos sem poder ainda anunciar qual será o conselheiro da revolução, apresentar uma nova intervenção de um membro do Conselho da Revolução no próximo programa, ou seja, de hoje a oito dias.08m33: Este é o programa especial do Estado Maior General das Forças Armadas. Interrompemos o programa por alguns minutos para escutar o boletim noticioso que a redação da emissora preparou para as dez horas, voltamos logo a seguir.09h00: Estado Maior General das Forças Armadas.09h19: Regressa à antena da Emissora Nacional na sua rede metropolitana de Onda Média e Frequência Modelada o programa do Estado Maior General das Forças Armadas. Esta emissão aparece todos os domingos entre as nove e as onze da manhã.13m44: Já na última edição deste programa tínhamos tido a oportunidade de referir passagens da Lei constitucional para a restruturação das Forças Armadas, que tinha sido discutida e aprovada pelo Conselho da Revolução e logo ratificada pelo Presidente da República no dia 11 deste mês.14m27: Será certamente de utilidade, principalmente para os militares que nos escutam, de todas as armas e galões, refletir um pouco ainda sobre alguns pontos desse mesmo documento.14m40: (Membro do Conselho da Revolução) Considerando que a revolução portuguesa, visando estabelecer no País, uma sociedade democrática e socialista que terá forçosamente que se desenvolver de acordo com as condições objetivas que se verificam em Portugal e não copiando modelos experimentados pela história, em situações concretas diferentes.15m17: (Membro do Conselho da Revolução) As Forças Armadas Portuguesas têm a missão histórica de garantir as condições que permitam a transição pacífica e pluralista da sociedade portuguesa para a democracia e socialismo estão em condições de, em qualquer momento, desenvolver as operações militares necessárias a que se garanta uma verdadeira independência nacional e colaboram nas tarefas de reconstrução nacional. A disciplina terá que ser consciente porquanto repousa na necessidade do cumprimento das missões que são determinadas através da cadeia de comando, única forma das Forças Armadas Portuguesas constituírem o baluarte capaz de garantir a independência nacional e de se oporem a ações contrarrevolucionárias, venham de onde vierem.17m08: (Membro do Conselho da Revolução) As Forças Armadas Portuguesas, todos os seus organismos, unidades, estabelecimentos militares e componentes individuais, são rigorosamente apartidárias, não se permitindo que no seu seio sejam desenvolvidas atividades politicamente sectárias e que veiculem táticas e objetivos partidários para o seu interior. Deverão em especial os quadros impedir que as unidades que comandam sejam manipulados por interesses partidários garantindo que as diferenças de opinião dos seus homens, quanto ao caminho a seguir, não ameaçam a coesão de todos eles, e do povo português, quanto ao objetivo a atingir.18m44: Por alguma razão, e até foi por motivos muito concretos passámos aqui, de novo, os excertos mais importantes da Lei Constitucional para a reestruturação das Forças Armadas, de facto, este importante documento, produzido sobre responsabilidade do Conselho da Revolução, para além do seu aspeto intrinsecamente militar, representa as sínteses que o processo revolucionário marcadamente vincou. E essas sínteses dizem respeito a coisas que à força de se ouvirem e até pareciam vivas e respeitadas e que são o apartidarismo, a consciência revolucionária, a democracia, a independência nacional e o socialismo. Desde os tempos da clandestinidade, do movimento dos Capitães, os documentos então produzidos, tratavam dos mesmos aspetos que agora ressaltam vivos e dinâmicos na Lei constitucional, é urgente pois, que todos os militares tomem consciência, reflitam, analisem estes meses da revolução, desde o 25 de abril, os militares devem tirar conclusões críticas do Spinolismo, da crise Palma Carlos, do 28 de Setembro, do 11 de Março e do recente 25 de Novembro. É que essas conclusões forçosamente irão desembocar nas constatações expressas nesta Lei Constitucional e que são: a disciplina, o apartidarismo, a democracia, o socialismo, a independência nacional e finalmente, a recusa de se aceitarem ou copiarem modelos experimentados pela história, em situações concretas diferentes. Só assim poderá ser praticado um tipo de comando que utilize e incentive o diálogo e o esclarecimento permanente, bem como a capacidade criadora e crítica de todos os componentes de uma unidade de qualquer escalão, como forma de obter uma disciplina consciente. Este conjunto de exigências e dificuldades claramente apontados na Lei que estramos a tratar são os suportes, que poderão na prática, transformar os militares em revolucionários, de facto há vários mecanismos mentais, que no fundo, não passam de sofismas, são modos de pensar que nada têm de haver com a revolução, que dizer de quem se recusa a pensar encostando-se à sombra de experiências bem conhecidas de direita ou de esquerda, baseadas em livros teóricos velhos ou menos velhos, lidos à pressa e dados por mãos comprometidas com estatismos anti dialéticos sem procurar saber as razões e os interesses que dizem respeito aos trabalhadores desta terra.21m42: Ora, como vimos, este tipo de prática política nada tem a ver, nem com a revolução, como havíamos dito há instantes, nem muito menos com revolucionários, nem com liberdade, nem com democracia, com independência nacional ou com o socialismo.27m15: Os militares portugueses conheceram a experiência dura, duríssima, de lutas injustas no longo e pesado fardo das Guerras Coloniais, adquiriram a capacidade de não se deixarem reduzir a meros instrumentos de forças sectárias que os pretendem destruir, desviando-os da rota traçada no 25 de Abril. Esta consciência foi conquistada na vivência quotidiana da realidade do colonialismo. É preciso que não se perca na maré avulsa do oportunismo atual. A força do 25 de Abril está hoje presente com tanto mais fulgor quanto os militares, praças, sargentos e oficiais puderem aprender que terão de possuir uma capacidade de crítica e uma ética perfeitamente de acordo com as duras tarefas que o apartidarismo comporta, é difícil, é mesmo violento, mas é fundamental. O apartidarismo será assim a trave-mestra da disciplina e da coesão das Forças Armadas, superar rapidamente as sequelas deixadas pelas infiltrações partidárias da direita, do centro ou da esquerda, é erguer um muro às vozes comprometidas que vêm de fora, é criar as condições a um MFA, garante do processo revolucionário, rumo ao socialismo e à independência nacional, é enfim, caminhar como revolucionário, com a revolução.