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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 4 (I), Trilha 1): A origem do Movimento dos Capitães.

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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 4 (I), Trilha 1): A origem do Movimento dos Capitães.

Detalhes do registo

Nível de descrição

Documento simples   Documento simples

Código de referência

PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/007

Título

Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 4 (I), Trilha 1): A origem do Movimento dos Capitães.

Datas de produção

1975  a  1975 

Dimensão e suporte

1 ficheiro áudio MP4, 30m38.

Registo audiovisual

https://vimeo.com/1085447159

Âmbito e conteúdo

Programa emitido pela Emissora Nacional e produzido pelo Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), que se inicia com a história da origem do Movimento dos Capitães, e onde são apontadas as principais causas para o surgimento deste movimento nomeadamente: reivindicações socioprofissionais, consciência global do fenómeno político português dos últimos 50 anos, Guerra Colonial na base de toda a superação política dos homens do 25 de abril. Apelo do MFA à construção da via socialista, leitura por um membro do Conselho da Revolução de algumas passagens de um documento clandestino, datado de Março de 74, do Movimento dos Capitães onde é feita a referência ao que considera ser o maior problema do povo português e que condiciona todos os outros. “O Problema Africano", (guerra entre territórios africanos, em Angola, Moçambique e Guiné). No final, conclui que este é um problema político e não militar, e são apresentadas soluções para a resolução do problema ultramarino e soluções para os diversos problemas que o país atravessa. As várias temáticas abordadas são intercaladas com música.

Cota antiga

P4P1

Idioma e escrita

Português

Características físicas e requisitos técnicos

Gravação com qualidade bastante sofrível.

Existência e localização de originais

Áudio analógico (em fita de arrasto).

Existência e localização de cópias

Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).

Transcrição

Estado Maior General das Forças Armadas. A partir deste instante está no ar mais um programa especial do Estado Maior General das Forças Armadas, transmitido na rede metropolitana da Emissora Nacional, Onda Media e Modelação de Frequência. Este programa de intervenção social é realizado por incumbência do Estado Maior General das Forças Armadas, por um grupo de trabalho. Uma questão de programação da Emissora Nacional levou a que, o programa fosse ligeiramente antecipado, ao mesmo tempo que a partir de hoje vê o seu tempo alargado. Passa por tanto a aparecer neste mesmo ponto do quadrante, todos os domingos, entre as nove e as onze da manhã. Por nosso intermédio nas nossas vozes, na nossa música, o MFA apresenta os bons dias aos militares, aos portugueses.17m20: As origens do Movimento dos Capitães, um tempo histórico que começa, uma memória, a retrospetiva, a luta, um trabalho difícil superado num esforço crítico coletivo, uma dinâmica que se projeta no futuro da nossa terra, do nosso povo, um movimento embrionário humilde. A clandestinidade dos Capitães, balbuciando os primeiros passos, as reivindicações socioprofissionais, primeiro, a consciência global do fenómeno político português dos últimos cinquenta anos, depois, as guerras coloniais na base de toda a superação política dos homens do 25 de abril. A dureza crua de uma realidade vivida, aprendida, ao longo de treze anos, à luz do dia para o mundo, o 25 de Abril. Os cravos, a alegria espontânea de milhões de portugueses, o primeiro passo para a libertação, simplesmente, nem se quer o passo mais difícil. Após vinte meses de lutas, sofrimentos, de ódios, de desvios, de erros, de infiltrações, de partidos, o MFA sobrevive, supera-se e as ilusões caem, a realidade é a vida, enfrenta a vida, reencontra-se, organiza-se, une-se, autêntico, liberto de erros velhos, aberto à construção da via socialista, da independência nacional. Disciplina-se, une-se, o supra-partidarismo, a luta de classes, o MFA garante da liberdade, do socialismo, da autonomia das massas trabalhadoras. A via sinuosa dos interesses opostos, os partidos, as direitas e as esquerdas, a criatividade autónoma dos trabalhadores, o MFA supra-partidário, uma longa marcha que apenas começou.20m20: Regressemos um pouco às origens e recordemos os documentos clandestinos desse movimento embrionário e humilde.20m31: (Membro do Conselho da Revolução) Não é com medidas apressadas, destinadas a abafar as vozes discordantes e a atenuar o crescente descontentamento dentro das Forças Armadas que o poder político conseguirá colmatar a brecha que se abriu, profunda e dolorosa, na consciência da maioria dos militares. Nem serão nunca, essas medidas que restituíram o prestígio e [avalade] das Forças Armadas porque o problema não se localiza ao nível de um grupo socioprofissional. O prestígio das instituições militares só será alcançado quando as Forças Armadas se identificarem com a nação, quando entre as Forças Armadas e o povo houver realmente unidade fundamental quanto aos objetivos a alcançar.21m27: E noutro passo, do mesmo documento clandestino do Movimento dos Capitães, pode ler-se.21m35: (Membro do Conselho da Revolução) O problema maior do povo português e que em larga medida condiciona todos os outros é, neste momento, o da guerra em três territórios africanos: Angola, Moçambique e Guiné. A questão é gravíssima e está na base de uma crise geral do regime já incontrolável pelo poder. Está generalizada, tanto no seio das Forças Armadas como na sociedade civil, a ideia de que não é possível obter-se uma vitória pelas armas, tudo é feito para que na opinião pública nacional se enraíze a noção de que o poder político traçou já a estratégia adequada e que as Forças Armadas não travam mais que segui-la, para que a integridade dos territórios seja garantida.22m25: E continua a voz dos Capitães de Abril em documento datado de março de 1974.22m33: (Membro do Conselho da Revolução) Os militares conscientes sabem, porém, que a solução do problema ultramarino, é político e não militar e entendem ser seu dever denunciar os erros de que são vítimas e transformarão as Forças Armadas, uma vez mais, em bode expiatório de uma estratégia impossível. Uma solução política que salvaguarde a honra e dignidade nacionais, bem como todos os interesses legítimos dos portugueses instalados em África, mas que tenha em conta a realidade incontroversa e irreversível da funda aspiração dos povos africanos a governarem-se a si próprios. Essa solução tem de ser encarada com realismo e coragem, pois pensamos que ela corresponde não só aos verdadeiros interesses do povo português, como ao seu autêntico destino histórico e aos seus mais altos ideais de justiça e paz. Sabem, no entanto, os mesmos militares conscientes que tal solução jamais será consentida pelo poder que a si próprio se arroga o direito exclusivo em matéria de patriotismo e se pretende apoiado pela nação, onde estamos, pois, o exclusivo e o apoio proclamados. E porque assim pensamos, entendemos necessário, como condição primeira de solução do problema africano, da crise das Forças Armadas e da crise geral do país que o poder político detenha o máximo de legitimidade. Sem democratização do país não é possível pensar em qualquer solução válida para os gravíssimos problemas que se abatem sobre nós. Só nessas condições poderão as Forças Armadas ter um mínimo de garantia de que são instrumento da vontade da nação e que não se encontram ao serviço de qualquer grupo. Só nessas condições poderão as Forças Armadas alcançar o prestígio que reivindicam, pois só então haverá a garantia da necessária unidade entre o povo e as instituições militares. Na verdade, o Exército [faceará] o povo em armas, quando entre o Exército e o povo não existirem quaisquer barreiras, quando o Exército for realmente a encarnação de uma vontade coletiva de defesa e uma afirmação insofismável, feita pelo próprio povo da segurança e independência nacionais.26m41: Tínhamos previsto e mesmo anunciado que estaria hoje aqui, connosco, o Major Melo Antunes para falar de descolonização. Inclusivamente, se bem estão lembrados, fizemos um convite para sugestão de temas a tratar pelo principal responsável do processo de descolonização. Pois bem, essas cartas chegaram, mas acontece que os ouvintes e nós próprios dispomos e as circunstâncias dispõem, melhor dizendo, nós próprios pomos e as circunstâncias dispõem. Os acontecimentos do final da semana, relacionados com o que se costuma chamar situação político-militar, fizeram com que o Major Melo Antunes, ocupadíssimo com reuniões e com preocupações, porventura mais importantes, acabasse por se ver impedido de gravar connosco a conversa que havíamos prometido. Antes de mais, em nome da equipa realizadora do programa, apresentamos o pedido de desculpa aos ouvintes. Mas não nos ficamos sem prometer ou pelo menos prever o tratamento do importante tema da descolonização, de hoje a oito dias, com o mesmo convidado. Aliás, está sempre com o Estado Maior General das Forças Armadas, que é o promotor do programa, que todos os domingos, aqui estará um membro do Conselho da Revolução para falar connosco sobre temas da atualidade. A nossa intenção é a de pedir aos convidados do programa que falem diretamente sobre os assuntos postos, sem hesitações, num desejo evidente de assim contribuir para acabar com o diz-se, com o julga-se que, numa palavra para acabar com o boato. E a participação dos ouvintes com perguntas concretas ou sugestões de temas é por nosso lado ponto assente.29m04: Vamos falar de novo da operacionalidade das Forças Armadas. O combate aberto às infiltrações partidárias no seio das Forças Armadas é a pedra fundamental por onde passa a operacionalidade e a própria disciplina revolucionária. Para se manter fiel ao papel histórico a que se propôs perante os portugueses, em 25 de Abril, o MFA terá de ser verdadeiramente supra-partidário. Já neste programa se falou do regresso às origens e como é importante a coincidência entre o que acabámos de referir e as citações que ouviram há minutos, dos documentos clandestinos do Movimento dos Capitães. Além do mais o supra-partidarismo é uma arma crítica, antidogmática e anti sectária. A busca sem tréguas da síntese criadora do MFA abrirá o caminho a uma verdadeira democracia das massas trabalhadoras.