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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 4 (II), Trilha 1): As cidades versus o campo.

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Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 4 (II), Trilha 1): As cidades versus o campo.

Detalhes do registo

Nível de descrição

Documento simples   Documento simples

Código de referência

PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/009

Título

Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 4 (II), Trilha 1): As cidades versus o campo.

Datas de produção

1975  a  1975 

Dimensão e suporte

1 ficheiro áudio MP4, 30m41.

Registo audiovisual

https://vimeo.com/1085447331

Âmbito e conteúdo

O programa continuação da leitura da carta do Aníbal à prima Laurinda, que nela também enumera algumas dificuldades de se viver nas cidades.O programa prossegue e faz uma comparação entre o mundo dos campos e o mundo das cidades, e entre o capital e o trabalho, sendo através destes antagonismos que surgem as classes sociais com interesses opostos. Referência às leis do capitalismo que deram origem às cidades e ao apoio do MFA no intercâmbio entre os trabalhadores do campo e das cidades. As várias temáticas abordadas são intercaladas com música.

Cota antiga

P4P2

Idioma e escrita

Português

Características físicas e requisitos técnicos

Gravação com qualidade bastante sofrível.

Existência e localização de originais

Áudio analógico (em fita de arrasto).

Existência e localização de cópias

Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).

Transcrição

(Continuação da leitura da carta do Aníbal) É por isso que há cidades. Mas aí no campo também se passam coisas parecidas com aqueles senhores muito ricos que tem grandes propriedades. Aí, mesmo ao pé de si, os Lopes e os Ferreiras pertencem ao grupo dos exploradores. E há também os Joaquins e os Manueis que não sendo ricos, lutam para serem Lopes e Ferreiras, nós damos a isso um nome, outra palavra cara, ideologia. Ora, quanto a mim, para se acabar com a exploração de quem trabalha é preciso subir o sistema capitalista, único responsável pela existência destas cidades loucas e aparentemente ricas e dos campos verdadeiramente pobres e sacrificados. Mas olhe que nas cidades as pessoas que trabalham vivem também muito mal. Vou dar-lhe alguns exemplos, os operários, não se esqueça, que a maior parte deles veio das províncias, foram obrigados pelo tal sistema capitalista a abandonar os campos e a vir trabalhar para as cidades como escravos. Muita desta gente não tem casa, pois não ganha o suficiente para pagar uma renda de casa. Calcule que eu, sendo advogado, pago três contos e oitocentos pela minha casa de três divisões, em Benfica. A prima já cá esteve e até deitou as mãos à cabeça, chamando ladrão ao senhorio. Voltando aos operários, sabe onde eles moram? Em barracas ou já fora das cidades, muito longe ou então em quartos ou partes de casa. Veja só por aqui a miséria. A prima, felizmente, ainda tem casa própria, talvez até lhe custe avaliar isto que lhe estou a dizer. Eu sei que a prima Laurinda desconfia dos homens com estudos e que, no meio deste palavreado, a prima, e eu conheço-a muito bem, pensa com uma certa razão que os Doutores aprendem, mas é para enganarem os pobres e ignorantes. É aqui, que julgo, que a prima faz mal em pensar que todos aqueles que estudaram estão dispostos a enganar sempre os pobres e ignorantes. Se a maior parte dessas pessoas por ser assim, há também alguns que querem por as coisas que aprenderam à disposição dos pobres, mas para tal é necessário que cessem as desconfianças sistemáticas que não deixam as pessoas ensinarem-se umas às outras. Pela minha parte, posso garantir-lhe que conheço alguns amigos Doutores, intelectuais, aqui vai mais uma palavra difícil, que querem mesmo contribuir para acabar com a ignorância das pessoas, de modo a estas não poderem ser enganadas. Repare nisto que lhe vou dizer, no meu caso pessoal, e a prima conhece-o muito bem, andei eu, todo entusiasmado, desde o liceu para ser Doutor em leis, à custa dos vossos sacrifícios e do meu trabalho. Pertenço, hoje, a uma classe favorecida a dos Doutores. Posso pagar uma renda de casa de três contos e oitocentos e até poderia pagar mais, tenho um automóvel de boa qualidade, a minha casa está bem arranjada, os meus filhos parecem felizes e a Lídia também. Mas, à parte das aparências, muitas vezes pergunto se sou verdadeiramente feliz ou se, ao contrário, não serei um simples peão obrigado a fazer o jogo do tal modo de produção capitalista, dos exploradores. É que, com o tempo, e na prática das leis, depressa me apercebi que dificilmente um pobre ganha num tribunal, melhor dizendo, as causas que perdi eram processos dos explorados, as causas que ganhei eram dos exploradores. Hoje, depois de pensar nestes dez anos de advocacia, tenho a certeza da inutilidade do meu curso, em termos de contribuir na prática para a resolução dos problemas dos explorados dos campos e das cidades. Uma coisa sei, sei o entendimento dos pobres dos campos e dos pobres das cidades, não é possível destruir os exploradores. Os Lopes e os Ferreiras daí e os Melos e Champalimaud daqui e muito menos ainda destruir a maneira de pensar dos Joaquins e dos Manueis daí e daqui que querem ou julgam querer, ser como os Ferreiras ou os Lopes. É isto que nós aqui chamamos ideologia, a tal palavra cara. Quando a prima diz, na sua carta, que para si reacionário é quem não trabalha e dá conselhos a quem não encomendou sermão, tem a prima toda a razão. Mas, desculpe a franqueza, prima Laurinda, já não tem razão quando houve os conselhos dos tais Ferreiras e dos tais Lopes e defende os interesses dessa gente. Foi precisamente por eu ter dito isto na última carta que lhe escrevi, que a prima ficou zangada comigo. Volto a dizer-lhe a mesma coisa que já lhe disse, não acredito nem um bocadinho na honestidade e honradez desses senhores. E não acredito, pela simples razão, que é fácil aos ricos serem honrados e honestos, as leis que existem foram feitas para defender essa gente e estão de acordo com os seus interesses. Assim, é fácil ser honesto à luz da justiça. Se a prima pensar que a justiça beneficia apenas os ricos e poderosos, quantas vezes me disse isto mesmo a prima Laurinda, quando eu tirava o curso das leis e me aconselhava a velar pelos pobres. Aqui há anos, era eu um rapazinho, a prima perdeu a questão por causa das águas, nas terras do cimo do povo, precisamente com os Lopes. É por isso que eu não percebo como ouve agora esse homem e até me fala da sua sinceridade. Ainda lhe digo mais, o Manuel da tenda é um excelente homem, como sabe sou bastante amigo dele, mas está a ser enganado pelo Lopes, aliás, vou escrever-lhe a pedir para ele dar uma saltada até Lisboa para conversarmos. Que pensa a prima desta ideia. É que, volto mais uma vez, a ter dúvidas quanto à união do povo para correr com os meninos e penso a de trás de tudo isso não estará a habilidade dos Lopes e dos Ferreiras?  Não quero com isto dizer que concordo com esses meninos, como a prima lhes chamou, que vão fazer propaganda política desconhecendo as realidades da nossa terra. Essa de colarem cartazes nas aldeias para as pessoas exigirem casas é realmente incompreensível, pois praticamente toda a gente do Norte tem a sua casita, se vos falassem de água para aumentar as terras de regadio, vocês já os olhavam de outra maneira. Nesta carta apenas tratei alguns casos dos muitos que tenho para lhe falar e mesmo os aspetos de que lhe falo tem muita coisa para dizer, pensar e fazer, por isso… Beijos e saudades da Lídia e meninos para a prima. De mim o tal grande abraço de amizade. Aníbal. Já me esquecia de dizer que estou ansioso pela chegada do cabaz do salpicão. Até um dia destes.13m24: O mundo dos campos, o mundo das cidades. O capital e o trabalho, eis o resultado da principal contradição do modo de produção capitalista. É a partir deste antagonismo que surgem as classes sociais com interesses opostos. De um lado, os exploradores, do outro, os explorados, de um lado, os trabalhadores manuais, do outro, os trabalhadores intelectuais. Este é, pois, um outro aspeto, do mesmo problema, onde sentem em grande parte a oposição entre a cidade e o campo. Centralização, crescimento, acumulação, concorrência, são leis próprias do capitalismo, da exploração do homem pelo homem. Estas leis originaram as cidades, monstros apocalíticos, onde é difícil o diálogo, a convivência dos homens uns com os outros. As cidades são apenas locais de concorrência, de tráfego de mercadorias e valores, onde os habitantes se esmagam numa competição alucinante do dia-a-dia e para quê? Para que o capital continue a acumular-se, a concentração a reforçar-se, a exploração do proletariado a exercer-se, de modo a produzir as sagradas mais valias que permitem a manutenção do edifício capitalista. O corte radical com o universo capitalista, obriga ao desaparecimento das contradições em que vivemos, a da cidade e a do campo, a do trabalhador manual e a do trabalhador intelectual, a do capital e a do trabalho. Para se vencerem estas contradições é necessário e urgente que os operários e camponeses se conheçam cada vez mais e melhor. É sempre o mesmo problema da autonomia, a união do proletariado será fácil, no dia em que possam ser discutidos por operários e camponeses as suas experiências e conhecimentos. Se tivermos presente que grande parte dos operários vem dos campos, depressa veremos como esse entendimento será fácil. A emancipação dos trabalhadores ou é obra deles próprios ou não será coisa nenhuma.16m48: O MFA tudo irá fazer no sentido de promover viagens e contactos diretos dos homens dos campos, com os homens das cidades e da gente das cidades, com a gente dos campos e dos militares, o povo fardado, com todos os explorados. Este intercâmbio ordenado de acordo com as necessidades das classes exploradas e dos seus órgãos autenticamente populares, comissões de trabalhadores, comissões de moradores e concelhos de aldeia não deve ter interferência, oportunismo e demagogia dos profissionais da política, de direita ou de esquerda.19m46: O MFA não pretende ser o pai do proletariado, não vai ensinar o proletariado a lutar pela sua libertação e autonomia, com base em qualquer sofisma, baseado em noções, tais como as de partido, verdadeiro partido, vanguarda ou democracia burguesa e sufrágio universal. Sabe-se através da história que nenhum destes slogans demagógicos, levou ao poder popular e muito menos ainda à tão propagandeada democracia proletária.20m58: O povo português e as massas trabalhadoras não devem acreditar nas belas palavras e belas frases ditas em seu nome, na prática das experiências conhecidas, desde as sociais-democracias aos diversos socialismos, o proletariado está longe de ver no horizonte o poder proletário e popular. Em Portugal, o MFA tudo fará para que aqueles que falam em nome dos trabalhadores, não tenham possibilidade de repetir, sobre vários disfarces, novos modos de exploração, mesmo quando esses sistemas se reclamam de sociais-democratas, socialistas ou comunistas. A sociedade socialista terá que ser mais do que um simples chavão, terá de ser a transição gradual para a sociedade sem classes, ou seja, o comunismo. Esta transição só será possível, se os trabalhadores dominarem e controlarem o que produzem. Portanto, a mera substituição dos antigos Champalimaud, por uma nova classe de senhores, que se chamam a si próprios representantes exclusivos e únicos do proletariado e além disso árbitros dos seus interesses e lutas é um processo histórico morto para poder voltar a ser reproduzido com êxito em Portugal.24m39: Correspondência.25m17: António Alberto Trigo, morador em Algés. O assunto que expõe na sua carta, mereceu a nossa melhor atenção, mas deverá compreender que é um problema demasiado particular para poder ser tratado aqui. Tomamos por isso a liberdade de entregar, a sua carta, no Gabinete do Ministro da Cooperação, Comandante Vitor Crespo, a quem pedimos, pessoalmente, que lhe responda.26m11: Rui Manuel Palhinha, de Lisboa, o que nos pede poderá obtê-lo, facilmente, adquirindo a edição do dia 17 de novembro, do Jornal O Século.26m54: José António Franco, do Laranjeiro, Estrada Nacional número dez, parece-nos que levanta na sua carta uma questão importante, mas que é de momento difícil de desenvolver no nosso programa. Assim, decidimos entregar a sua reclamação e as suas sugestões a um Oficial Superior do Estado Maior General das Forças Armadas, que nos prometeu encaminhá-lo imediatamente para a entidade competente. Deverá ter notícias em breve, mas se não tiver volte a escrever-nos.30m18: E já que estamos a falar de correspondência, desejamos salientar o facto de recebermos todos os dias cartas, cada vez em maior número. Os mais variados problemas são nelas focados e nós dentro da medida do possível, tudo faremos para dar satisfação aos ouvintes do programa.