Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 5 (II), Trilha 1): A burguesia.
Nível de descrição
Documento simples
Código de referência
PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/013
Título
Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 5 (II), Trilha 1): A burguesia.
Datas de produção
1975
a
1975
Dimensão e suporte
1 ficheiro áudio MP4, 30m22.
Âmbito e conteúdo
Pequeno resumo sobre a história da Burguesia, definição de burguês e de burguesia com critica à burguesia e aos burgueses. As várias temáticas abordadas são intercaladas com música.
Cota antiga
P5P2
Idioma e escrita
Português
Características físicas e requisitos técnicos
Gravação com boa qualidade no início, mas transita para uma qualidade menos boa até final da gravação.
Existência e localização de originais
Áudio analógico (em fita de arrasto).
Existência e localização de cópias
Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).
Transcrição
A burguesia é a classe social que em termos ideológicos se define negando a existência das outras classes sociais, ora é precisamente por negar a realidade das outras classes sociais que a Burguesia é classe social.01m03: O que acabámos de dizer é tão verdadeiro que a simples análise das revoluções burguesas nos dará razão, de facto, a burguesia alcança o poder económico e o poder político enquanto classe social, pela primeira vez, na história da humanidade, nos séculos XVIII e XIX.02m06: Como, pois, à burguesia tornar absolutamente claro o contexto da luta de classes e, portanto, das classes sociais, o papel que depois foi desempenhado pelo pensamento ideológico da burguesia, que tudo fez no sentido de esconder esta realidade sob os mais diversos disfarces, individualismo, nacionalismo, liberdade, igualdade, fraternidade, democracia, representatividade, sufrágio universal, parlamento, partidos políticos, etc.06m11: O burguês considera-se individualista e apresenta-se perante os outros como um homem livre, pretende ignorar ou ignora mesmo, a sociedade global onde vive conhece-a apenas por ouvir dizer, julga poder reduzir o mundo às suas próprias necessidades e prazeres, daí o afirmar-se livre. A sua liberdade faz-se como se sabe da exploração dos outros, os burgueses quer sejam grandes, pequenos ou médios, quer se dediquem à finança, ao comércio ou à indústria, não gostam de ouvir a palavra burguês.09m27: Quando um burguês diz, eu sou um burguês, ou nós os burgueses, há que reparar que o faz com raiva e até com jeito de desafio. Não será de estranhar que logo de seguida nos grite, mas afinal quem é que não é burguês? Contudo, isto pretende como se disse esconder a sua situação de classe, pretende afinal esconder tudo. O papel do esconde que esconde da burguesia torna-se perfeitamente ridículo, mesmo cómico, quando à força de já não poder esconder o que lhe apetece tem de aceitar a realidade, então afirma-se burguês, para dar a ideia de que está a um passo de não o ser, à custa de um esforço de sinceridade, ora que se saiba a sinceridade não é compatível com a burguesia.12m08: A moral burguesa é o cinismo das aparências regulares e convencionais, a Burguesia tudo faz para que a realidade das suas vidas seja impenetrável aos olhos dos outros, o burguês tem um lar, uma família, educa os filhos, é perfeitamente humano e consciente das suas responsabilidades, é esta a imagem que o burguês quer manter a todo o custo. A mastificação da realidade é o aspeto fundamental da ideologia burguesa, é a partir de todo este mundo irreal, falsificado que a Burguesia recusa a vida e entra no campo anormal do fantástico, melhor dizendo, da alienação, donde aliás já não pode fugir, de tal modo se encontra enredada nas malhas da produção industrial, que ela própria teceu.14m02: À medida que se torna mais difícil à burguesia esconder o mundo real, é ela mesma que escolhe esconder-se do mundo, prefere assim a fuga a enfrentar a realidade, podemos pois dizer que o mundo burguês é um mundo fechado, intransponível, de propriedade privada, onde não há comunicação entre as pessoas, mas desconfiança, medo, polícia, intermediários, onde não há nem comunidade nem comunhão, onde apenas resta o medo ou a perda das vantagens alcançadas na base da exploração de todos os que trabalham. É por tudo isto que os burgueses se escondem, se isolam em pequenos grupos e círculos, o mundo passa então a ser isso, o grupo de amigos, o círculo, a sua sociedade, falta à burguesia uma dimensão humana.16m28: As relações burguesas capitalistas nada tem a ver com a espontaneidade, as pessoas poderão pensar que apesar de tudo deve haver algum exagero no que se afirma, tendo presente que a burguesia é a classe que domina, que detém o poder económico e político, de facto a burguesia só se une em momentos fugidios, excecionais, quando luta contra uma classe oposta, primeiramente lutou contra a aristocracia, nos nossos dias, luta contra a classe operária, por isso a capacidade espontânea da burguesia capitalista reduz-se a limites insignificantes.17m46: As relações burguesas baseadas no princípio fundamental do negócio, do lucro da exploração tornam esta classe perfeitamente alienada para a vida. As relações de amizade, de interesses ou de desejos desta gente tem pouco ou nada a ver com o poder de comunicação espontâneo das pessoas, o viver dos burgueses uns com os outros é feito através de uma falsa comunicação, baseada em símbolos, truques, preconceitos, aparências, enfim, de mutilações constantes, é que as pessoas para comunicarem tem de fazer esforços, por vezes tem mesmo de gritar e isto parece mal, dizem.19m34: Para a burguesia, a sinceridade e a espontaneidade são coisas que não devem ser usadas pela classe que comanda, daí todas as vigarices e roupa suja que a política desta gente comporta, ora à partida esta coisa da sinceridade não ser conveniente explica a impossibilidade para a burguesia dizer a verdade, no fim de contas o homem burguês é um mutilado, pois sempre será incapaz de dizer a verdade, a verdade será a sua destruição, pois irá esclarecer muitas pessoas que até se julgavam burguesas.21m44: A verdade anuncia, pois, o fim de uma classe que apenas se apoiou na mentira, na fraude, no engano, no mito, nos símbolos falsos e na exploração dos trabalhadores para poder viver.25m49: A equipa realizadora do programa do Estado Maior General das Forças Armadas tinha proposto há três semanas, a intervenção regular de conselheiros da revolução sobre temas da atualidade. Sucedeu então se estão recordados uma conversa com o General Costa Gomes sobre as manifestações e os aspetos relacionados com elas, depois foi anunciada a participação do Major Melo Antunes, sobre o tema da descolonização, que na altura e por afazeres inadiáveis do convidado não foi possível gravar, adiou-se por uma semana o assunto, mas aconteceu o 25 de novembro, como seria de esperar as consequências dos graves acontecimentos então verificados, levaram a que seja neste momento encarada como mais conveniente a política de mais obras e menos palavras, como até já foi referido em algumas declarações e entrevistas de conselheiros da revolução, mas a verdade é que tínhamos previsto também, a larga participação dos ouvintes do programa com o envio de sugestões e temas a tratar nessas conversas e são bastantes as cartas recebidas, pelo que, na impossibilidade de trazer, por enquanto, os conselheiros até à nossa mesa de trabalho, como a nós pareceria oportuno, devemos no mínimo esta explicação a quantos responderam ao chamamento, veremos se a própria clarificação do processo e da situação político-militar irá, em breve, permitir concretizar a ideia do diálogo quase direto dos conselheiros da revolução com os ouvintes do programa, que afinal é o seu também.27m43: E por falar em correspondência não queremos deixar de salientar uma carta muito curiosa que recebemos há dias e que nos é enviada pela ouvinte Maria Virgínia Correia, o assunto de que nos fala mereceu a nossa melhor atenção, mas julgamos que só poderemos dar-lhe seguimento se quiser ter a amabilidade de nos enviar o seu endereço, a delicadeza do problema que levanta, assim parece determinar este procedimento, de acordo?28m59: Mas em nosso poder bastantes respostas ao concurso dos “boatos" tencionamos fechar o concurso no próximo domingo com a consequente atribuição dos prémios prometidos, alguns boatos já fizeram rir francamente a equipa do programa. Levantando uma pontinha do véu poderemos adiantar que a imaginação fértil dos nossos ouvintes vai ao ponto de pretender ser verdade um decreto esquisitíssimo acerca de golpes e que estaria para sair em breve, passando ainda por toda uma série de histórias ligadas aos acontecimentos recentes e inclusivamente ao aparecimento deste mesmo programa que estão a ouvir e que acontece na rede da Emissora Nacional que também não escapou ao boato inventado.