Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 1, Trilha 2): Apelo a quem detém o conhecimento para se unir ao processo revolucionário contribuindo para a revolução cultural do país.
Nível de descrição
Documento simples
Código de referência
PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/002
Título
Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 1, Trilha 2): Apelo a quem detém o conhecimento para se unir ao processo revolucionário contribuindo para a revolução cultural do país.
Datas de produção
1974
a
1974
Dimensão e suporte
1 ficheiro áudio MP4, 26m17.
Âmbito e conteúdo
Programa emitido pela Emissora Nacional e produzido pelo Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), que apela aos homens que detêm o conhecimento e que estão dispostos a unir-se no processo revolucionário, para passarem à ação, contribuindo assim para a revolução cultural do país, pois só ela abrirá o caminho à competência. Significado de conceitos de Hierarquia, Competência, Hierarquia da competência, com crítica às desigualdades sociais, exploração do Homem pelo Homem, referência à importância da rádio no processo revolucionário, o exemplo de Orson Wells, alerta com chamada de atenção à criação de boatos por parte de algumas classes políticas, como manobras de diversão e como forma de encobrirem a sua incompetência, mencionando a necessidade de se desmistificar estes boatos. As várias temáticas abordadas são intercaladas com música.
Cota antiga
P1S2
Idioma e escrita
Português
Existência e localização de originais
Áudio analógico (em fita de arrasto).
Existência e localização de cópias
Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).
Transcrição
Numa sociedade dividida em classes como a nossa, a hierarquia e a competência são suportes de todo um sistema de desigualdades. Tais suportes impossibilitam o esclarecimento democrático, logo, o debate sobre a competência. É evidente que o problema da competência tem importância universal, quer dizer, está em toda a parte. Quando os participantes num debate sobre a competência se identificarem entre si, se isso acontecer, integrando-se desse modo num projeto socialista comum, então pode-se definir um determinado grau de hierarquia de competência e uma dada disciplina revolucionária. Isto quer dizer, que à partida, os mais competentes não serão necessariamente os melhores e devem ter bem consciência desse facto. Nós os competentes, os privilegiados, os designados e não esqueçamos que na história chegou mesmo a haver iluminados, devemos compreender que atingimos a competência, o saber, graças ao facto de pertencermos a uma classe favorecida que nos facultou os meios de estudar e aprender. Ora, talvez os melhores estejam ausentes deste processo.02m16: A seleção pela competência sustenta-se precisamente, repete-se aqui, nas desigualdades sociais, na tal exploração do Homem pelo Homem.05m25: Mas ao falarmos nessa coisa de hierarquia da competência, sem ter presente a herança capitalista da sociedade, em que vivemos hoje, feita de classes antagónicas é tentar disfarçar, quando não mesmo esconder a realidade social existente. E é também abrir as portas, como se elas não estivessem já entreabertas, ao domínio de uma elite competente sobre os trabalhadores. Perpetuar-se iam desta maneira as relações de desigualdade e sejamos lúcidos, isso levaria facilmente às conhecidas formulas do socialismo burocrático.07m42: Recapitulando, os homens que hoje detém o conhecimento, habitualmente diz se em jeito de anedota, que não o é, os que têm os livros, que estejam dispostos a unir-se no processo revolucionário, terão de passar à ação. Esses homens existem, neste nosso retângulo à beira-mar plantado, existem perto e longe do nosso local de trabalho, da nossa casa, do nosso bairro, do nosso dia-a-dia. O que eles têm a fazer, rapidamente, é contribuir para a revolução cultural, pois de outra coisa não se trata, só ela abrirá o caminho à competência autêntica e genuinamente democrática, extinguindo-se assim a separação entre o trabalhador manual e o trabalhador intelectual.10m09: Estado Maior General das Forças Armadas. O ponteiro do quadrante do seu recetor está neste momento numa das frequências modelada ou de onda média da Emissora Nacional, através da qual se transmite o programa especial do Estado Maior General das Forças Armadas. Este programa de intervenção social, o primeiro de uma nova série, é realizado por uma equipa e sob a responsabilidade do MFA e vai até ao meio-dia.15m40: Muitas das possibilidades da rádio estão por utilizar, mas a rádio é um meio de comunicação poderoso. E vem a atalho de foice, uma história passada nos anos trinta, nos Estados Unidos, país de grandes dimensões geográficas, que foi um dia na mais completa surpresa sacudido por um espantoso boato, através de uma pequenina estação de rádio.17m14: Continuando a nossa história, dizemos que um ator, hoje, mundialmente conhecido, Orson Welles, nem mais nem menos, baseando-se numa novela de ficção científica, A Guerra Dos Mundos, de H. G. Wells, realizou uma emissão que começava com uma notícia, dada com a maior emoção e como se tivesse acabado de chegar à redação dessa pequena estação de rádio. Recordamos, isto passa-se nos Estados Unidos da América do Norte. Tinham chegado os marcianos, ou pelo menos dizia-se que seres estranhos de outro planeta, tudo indicava estarem a invadir a Terra. Bom, depois foi um festival de imaginação e poder criativo de Orson Welles, a tal ponto, que a poucos minutos o pânico estava generalizado em todo o país, com todos os ingredientes, mortes, desastres, suicídios etc. Esta história que acabamos de contar tem a ver com a importância da rádio e com a importância do boato, isto não quer dizer que nós desejamos agora, contando este acontecimento real, incentivar aqui neste lugar o boato, não passaria pelo gosto de ninguém. Queríamos apenas mostrar como até os factos mais inverosímeis, merecendo uma certa habilidade, utilizada através de um qualquer meio de comunicação social importante, podem ser aceites e ocasionar sérias perturbações.20m21: A razão que nos levou a contar esta história tem mais a ver, neste caso, com o interesse até hoje demonstrado, por determinadas forças políticas, na criação de ocorrências imaginárias, para esconder, afinal, as suas próprias incapacidades na resolução dos problemas concretos.21m44: Foi por isso que nos lembramos de Orson Welles, pois estamos em crer que, sem a ajuda de artistas geniais como ele, não será possível a essas forças políticas continuarem na batalha da produção de boatos, a que nos habituaram.22m44: Estamos mesmo, imaginem, a pensar em arranjar, brevemente, um processo qualquer de pôr a capacidade imaginativa dos ouvintes, deste programa, ao serviço da desmistificação do boato. Como? Pela invenção periódica e sistemática de boatos. Vamos inventar boatos e quem sabe se não viríamos a receber tantas sugestões que nos obrigassem a de certo modo inventarmos nós pelo nosso lado uma espécie de concurso do melhor boato. Pois a ideia fica como um contributo, aqui, neste programa, para tentar recuperar uma coisa que se poderia chamar o bom humor à portuguesa, que infelizmente está em vias de desaparecer.25m04: Estado Maior General das Forças Armadas. Durante cerca de cinquenta e cinco minutos, esteve no ar, através da Modelação de Frequência e Onda Média da Emissora Nacional, em Lisboa 1, um programa especial do Estado Maior General das Forças Armadas. Este programa de intervenção social, o primeiro de uma nova série, estará todos os domingos, ao fim da manhã, neste mesmo ponto do quadrante. Realizado por incumbência do Estado Maior General das Forças Armadas voltará no próximo domingo. Por intermédio dele, o MFA dá os bons dias aos militares, aos portugueses.