Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 2, Trilha 1): História de Luísa e Pedro e o Sistema Socialista.
Nível de descrição
Documento simples
Código de referência
PT/ADN/EMGFA/5DIV/022/003
Título
Programa de Intervenção Social realizado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Programa 2, Trilha 1): História de Luísa e Pedro e o Sistema Socialista.
Datas de produção
1974
a
1974
Dimensão e suporte
1 ficheiro áudio MP4, 28m11.
Âmbito e conteúdo
Programa emitido pela Emissora Nacional e produzido pelo Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), que aborda a história de Luísa e Pedro, dois operários que não se conhecem, mas que têm vidas similares, com vários esclarecimentos cívicos, promovendo a inteligência política de atuação. Abordagem de temas como a Justiça, Honestidade, Cultura, Igualdade, Trabalho, Liberdade, Partidos, Sufrágio Universal, Democracia e o significado de Sistema Socialista, Via Socialista, Proletariado, Classes Produtivas. As várias temáticas abordadas são intercaladas com música.
Cota antiga
P2S2
Idioma e escrita
Português
Existência e localização de originais
Áudio analógico (em fita de arrasto).
Existência e localização de cópias
Ficheiros digitais WAP (matriz), MP3 e MP4 (derivadas).
Transcrição
Pedro e Luísa, Luísa e Pedro. Um sobe que sobe uma calçada, qual rampa íngreme, outro espera, não sabe bem o quê.00m41: Vamos hoje falar de Luísa e Pedro. Pedro e Luísa cansados de ouvir dizer que não sabem nada, que não percebem nada, puseram-se a pensar.04m34: Estado Maior General das Forças Armadas. Aqui, está na Rede Nacional da Emissora, Lisboa 1, Onda Média e Frequência Modelada, mais um programa de intervenção social realizado por incumbência do Estado Maior General das Forças Armadas. Este programa trabalho de uma equipa, aparece aos domingos, ao fim da manhã, entre as onze e o meio-dia, por enquanto. Através dele o MFA dá os bons dias aos militares, aos portugueses. Uma sociedade dividida em classes, como a nossa, teve necessidade de criar certos conceitos ou definições, que as pessoas são levadas a aceitar como verdadeiros e indiscutíveis. E porque são indiscutíveis? Porque numa sociedade deste tipo, tudo é feito para que essas coisas não possam ser discutidas. De facto, a ideologia dominante exerce-se através dos órgãos do poder instituído, de modo a criar a ideia em toda a gente, de que são verdadeiros e ainda por cima democráticos os princípios, tais como: justiça, honestidade, cultura, igualdade, trabalho, liberdade, partidos, sufrágio universal, democracia e o mais que se podia juntar a este belo rol.08m22: Pedro e Luísa não se conhecem, mas têm em comum a mesma preocupação, não chegar tarde ao trabalho.08m 53: Democracia, igualdade, justiça, partidos, cultura, todas estas regras e o modo de as pôr em prática devem fazer ressaltar o próprio viver das pessoas. Torna-se evidente a separação total entre os que inventam as ideias, os que fazem as regras, os que as executam, por um lado, e a esmagadora maioria dos homens e mulheres, por outro. Neste nosso planeta já pequeno, as mulheres e os homens que compõem a maioria das populações, estão arredados de qualquer hipótese de decisão e controlo, sobre as leis que apertam as suas vidas num cerco. Não tem realmente qualquer hipótese, tudo lhes é negado ou quase tudo, logo, também as bases culturais necessárias para pôr em causa os sofismas ideológicos que todos os dias lhes gritam aos ouvidos. Os homens e as mulheres que constituem as classes exploradas, limitam-se, pois, a ser a base e o suporte de todo um sistema de separações hierárquicas, tal sistema condiciona os trabalhadores ao respeito e obediência rigorosa, perante as regras tenazmente defendidas por todos os privilegiados.10m35: Luísa e a máquina, a grelha desce, a máquina sopra, Luísa empurra para o lado, a grelha sobe. Pedro constrói, vai avançando, ele e o muro.13m59: Mas existe um outro mundo, um outro sistema que também reproduz classes sociais de interesse opostos. É afinal o que se passa em qualquer sociedade, que se apoie na exploração do homem pelo homem.14m36: Qualquer dos sistemas mantêm, portanto, a exploração e consequentemente a expansão do proletariado. A favor de quê? De determinados conceitos chave, como por exemplo o de partido operário, que é no fim de contas, exterior às próprias massas trabalhadoras e mesmo à ideia de construção do socialismo.15m13: Em Portugal, tem-se falado muito, ultimamente, de socialismo. Convém ver, se afinal, as pessoas conseguem compreender, na barafunda da nossa atualidade, o que significa socialismo.15m46: Entende-se por socialismo, a transição para uma sociedade sem classes e nessa nova sociedade os meios de produção passam a ser pertença de todos.16m15: Máquina para, muro também. Luísa e Pedro, Pedro e Luísa. Marmita cheia, marmita vazia.17m06: Não há dúvida, se se pretende a extinção da classe operária, tem de se alterar o sistema capitalista. Ora, o salário não é apenas o dinheiro que as pessoas recebem pelo seu trabalho, é o preço da própria vida. Será que os sistemas socialistas existentes respondem, realmente, a estas questões fundamentais? É bom ter presente que o conhecimento das experiências históricas vividas, deve permitir um poder de crítica e análise, tais, que não se repitam eternamente os mesmos erros.18m41: Também se tem ouvido muito, em Portugal, a expressão via socialista, mas aqui como em toda a parte, o proletariado e o salariato não estão, realmente, em vias de extinção, logo falar-se de via socialista, não oferece, em tal circunstância, um mínimo de autenticidade.19m25: O proletariado moderno é o herdeiro do escravo da antiguidade, poderá parecer um pouco chocante, referir deste modo as classes produtivas, escravos? Vejamos. Que pensar do dia-a-dia de milhões e milhões de pessoas que labutam nos campos e nas fábricas e são no fim de contas quem cria tudo aquilo que permite a consciência tranquila e o bom viver de outras classes sociais. Que pensar de homens e mulheres, trabalhando oito horas por dia, gastando em média quatro para se deslocarem de casa ao emprego e vice-versa.20m28: Luísa e Pedro chega o cansaço, voltar a casa, em lugar sentado, mais uma luta ao fim do dia.24m07: Que pensar do modo de vida de mulheres e homens que, no nosso país e noutros, gastam metade do dia para poderem trabalhar e cuja perspetiva na vida é pouca ou nenhuma. Que pensar dessas mulheres e desses homens, cuja perspetiva, não sendo nenhuma, é, no entanto, a de poder ser uma sob vida, isto é, a luta por se manterem simplesmente vivos e reproduzirem-se.